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Tefé – ‘É construção de índio’, explicaram os ribeirinhos sobre o lugar onde moram: as cerca de 20 ilhas artificiais recentemente descobertas por arqueólogos do Instituto Mamirauá na região do Médio e Alto Solimões, na Amazônia. As ilhas são sítios arqueológicos de antigas aldeias construídas em áreas de várzea nos períodos pré-colonial e colonial.
Nomeadas pelas populações locais como ‘aterrados’, as
estruturas de terra ficam próximas a áreas com depressões, chamadas de
‘cavadas’, de onde foi retirado o material para a construção das ilhas, há
centenas de anos.
Na Amazônia, construções similares foram encontradas na Ilha
do Marajó, no Pará, e em Llanos de Mojos, na Bolívia.Agora, mais uma vez, a comunidade científica encontra
evidências do que foi visto e descrito no século 16 por cronistas europeus que
percorreram os rios e matas do interior da Amazônia e que também é corroborado
pela tradição oral das populações do presente.
Primeiras descobertas
As primeiras informações sobre essas construções na região
do Médio Solimões, no Amazonas, foram coletadas em levantamentos de campo
realizados na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Amanã, em 2015.
Em julho de 2018, um aterrado foi encontrado durante uma
expedição ao rio Juruá, na mesma região. A descoberta foi possível após a
indicação de um ribeirinho de uma comunidade da Reserva de Desenvolvimento
Mamirauá, unidade de conservação da região e uma das principais áreas de
atuação do Instituto Mamirauá, organização social fomentada pelo Ministério da
Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC).
Depois disso, foram encontradas mais três no rio Jutaí e
outras cinco nos rios Japurá e Auatí-Paraná.
O conjunto
Guiado por informações de um morador da cidade de Tonantins
(AM), o arqueólogo do Instituto Mamirauá Márcio Amaral subiu, em outubro, para
a região do rio Içá, no Alto Solimões.
Depois de cinco dias de viagem a barco, o pesquisador
descobriu um conjunto de 13 ilhas artificiais. “Esse número, que pode ser ainda
maior, configura um padrão de ocupação em uma área ainda maior do que as ilhas
encontradas no Marajó. ”
Cada uma apresenta área entre 1 e 3 hectares e medem de seis
e sete metros de altura.
“Faz a gente ponderar a quantidade de pessoas necessárias
para construir, movimentar milhares de metros cúbicos de terra e fazer uma
organização desse tipo. É preciso ter pessoas, organização para coordenar essas
pessoas e é preciso ter engenheiros que projetaram essas estruturas para elas
se sustentarem”, afirma o arqueólogo.
Os achados corroboram a teoria de que a Amazônia era
densamente populosa e composta por sociedades complexas e organizadas antes da
chegada dos europeus.
As construções das ilhas estão em uma área atribuída aos
antigos omáguas, povo indígena do tronco tupi que figura também nas crônicas
antigas de navegadores espanhóis e portugueses que passaram pela região entre
os séculos 16 e 19.
Acredita-se que os omáguas são ascendentes dos atuais kambebas,
etnia amazônida com aproximadamente 1.500 indivíduos em território brasileiro.
Foram encontradas cerâmicas do estilo corrugado,
caracterizado esteticamente pelas ‘rugas’, camadas modeladas nos vasos e peças.
O estilo cerâmico datado do século 15 e 16 é comum a grupos tupis.
Testemunhos dos ribeirinhos da região dão mais pistas sobre
a história das ilhas da região. Há relatos de reocupação das ilhas artificiais
ao final do século 19 e início do século 20 por um grupo indígena que teria
sido dizimado pela varíola, sobrevivendo apenas uma criança. O indígena
sobrevivente foi adotado por uma família do município de Santo Antônio de Içá e
teve um filho, hoje um pedreiro de cerca de 70 anos.
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“É necessário localizarmos ele e tentar descobrir a que grupo pertencia o pai dele. Se eram kambeba é uma evidência fascinante e indicativo de que descendentes dos omáguas estariam provavelmente reocupando os aterrados até o início do século passado”, explica o arqueólogo.
Fonte Original da Noticia: Arqueólogos descobrem conjunto de ilhas artificiais pré-coloniais na Amazônia
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